segunda-feira, 28 de março de 2011

Nessas minhas andaças o que ando encontrando...

OBAAA!! De volta ao blog, que delí!!
Como alguns já sabem, já estou aqui na Índia e gostaria de postar aqui tudinho tudinho para dividir com vocês todas as minhas incríveis experiências. Então vou começar lá do comecinho, quando eu ainda estava arrumando minha mudança em São Paulo. Separando o que eu ia trazer pra Índia, o que ia guardar na casa dos meus pais em Ribeirão Preto, o que era doação e o que ia pro bazar da TH (muiiiiiiiita coisa foi pro bazar, rs). Nessa mexeção encontrei uma matéria da Vogue de não sei quando, sobre uma viagem à Índia, que eu queria muito postar aqui. Segue partes da matéria:
“ Uma viagem sem fim. Uma brasileira passa  quatro meses visitando projetos sociais na Índia e no Nepal. De volta à rotina paulistana, Laís Fleury conta porque continua viajando.”
Na matéria ela cita algumas palavras de um autor polonês, Ryszard Kapuscinski,  que diz o seguinte: “Uma viagem não se inicia quando se cai na estrada e não termina quando se chega ao destino estabelecido. Ela começa muito antes e, na prática, nunca termina, já que a fita magnética da memória continua girando na cabeça”. Fato!
Continuando a matéria...
“Não é difícil entender porque há tantas ONGs trabalhanso no Índia. Apesar da rica diversidade cultural e religiosa, há muitos problemas. Favelas enormes, algumas com 1 milhão de habitantes – a título de comparação, a Rocinha, a maior do Brasil, tem 250 mil. A água é escassa, e a maioria da população precisa coletá-la em poços públicos, quase sempre bem longe de suas casas.  O trânsito é caótico e sem regras. O lixo está nas ruas, dentro dos trens, onde as pessoas circulam. É raro encontrar uma lata de lixo pública. Mesmo para quem vem do Brasil, o caos da Índia assusta. Chegar da um pouco de desespero, de angústia. Os problemas são ainda mais gritantes que no Brasil, e você leva um tempo até se adaptar. A sensação é parecida como a de um soco no estômago. Leva um tempo para se adaptar. O contraponto dessa realidade desalentadora é o trabalho das pessoas maravilhosas  que tive a honra de conhecer e visitar por lá. Gente que faz diferença , que não se conforma com essa realidade.
Gente como Jyoti Mhapsekar, uma indiana de Mumbai de estatura baixa, enérgica, cabelos grisalhos. Sua ONG tenta resolver de uma vez só dois sérios problemas da Índia: o lixo e o preconceito contra mulheres que pertencem à casta mais baixa, a Dalit. Jyoti percebeu que, em vez de ameaça, o lixo poderia ser usado para melhorar a qualidade de vida e a auto-estima dessas mulheres. Ela organiza e treina as dalits para atuarem como catadoras de lixo. Também ensinou-as a reciclar e a vender o que é coletado, além de criar um sistema de microcrédito para que possam fazer melhorias em suas casas. O lixo é um drama tão sério na Índia, tão vivo no dia-a-dia, que ver o trabalho dela dá uma sensação de gratidão, de alívio por saber que existe alguém que se preocupa com um problema que cresce de maneira assustadora.
                Outra fellow que conheci, Beena Sheth Lashkari, também de Mumbai, tem o sorriso mais contagiante que já vi. É tão apaixonada pelo que faz, que sua energia parece inesgotável.  Graças a Beena, crianças de 3 a 18 anos, moradoras de ruas ou de favelas, passaram a estudar. Muitas trabalham no porto de Mumbai, limpam 2 kg de peixe por dia e recebem por isso apenas US$ 0,16 (é isso mesmo, menos de R$ 0,50) – de novo uma realidade parecida com a das cidades mais miseráveis do Brasil, só que bem pior. Beena percebeu que, se a escola não fosse atrás delas, essas crianças jamais estudariam. E partiu para ação. Acompanhei Beena a uma visita na favela onde foi implantada a primeira escola, 17 anos atrás. Era difícil acompanhar seu passo acelerado nas labirínticas e estreitas ruas de terra. Beena cumprimentava as pessoas com seu carismático sorriso, iluminado. Nítidos a intimidade e o amor por elas. A escola era uma pequena  sala de aula de dois andares e parecia um mundo à parte na favela, um lugar sagrado, talvez o único momento em que as crianças desfrutavam do direito de serem crianças de verdade. Para os meninos e meninas de rua, Beena criou um ônibus-escola com um programa de três anos de duração. Nunca vou esquecer quando estacionamos o nosso carro e vimos o ônibus parado do outro lado da rua, com um enorme adesivo: “School on Wheels”. Quando subi os degraus, me deparei com crianças sentadas em fila, com trajes manchados pela sujeira da rua, cabelos despenteados. Nas mãos, pequenas lousas e giz faziam as vezes de caderno e lápis. Ver crianças que não têm casa receberem educação emociona.
Foto: revista Vogue
                 Ainda sob a influência da presença quase mágica de Beena, sigo meu caminho. O destino é o sul da Índia. É hora de conhecer Padmanabha e Rama Rao, um casal de fellows que leva para escolas da zona rural os princípios da Rishi Valley, excelente escola de elite criada pelo filósofo Jiddu Krishnamurti (1895 – 1986). A dupla desenvolveu um currículo apropriado a alunos de diferentes séries, idades e gêneros, castas e idiomas, dando liberdade para a criança aprender em seu próprio ritmo. O material é pertinente ao estilo de vida e tradições locais – em vez de livros, são utilizadas cartilhas com uma “escada do aprendizado”: o aluno deve percorrer degrau por degrau até se formar.  Cada degrau corresponde a uma atividade. Numa das escolas fui recepcionada por crianças felicíssimas com a visita que veio de longe. Na porta uma placa: Sandra Danan (escola bonita, no dialeto local). A escola, na verdade, era uma pequena sala de aula, diferente das escolas rurais que conheci no Brasil graças à impressionante variedade de materiais para os alunos trabalharem.  Tudo, diga-se de passagem, coletado na comunidade. Parti renovada, cheia de esperança. Um lugar pequeno, escondido no mapa, onde a educação é prioridade, e as tradições, um patrimônio”.
                Achei essa matéria muito legal e também muito emocionante, um pouco forte né? Quando eu estava aqui lendo e escrevendo tudo isso, algumas vezes percebi que estava com aquele nó na garganta e senti vontade de conhecer essas pessoas mágicas...  Vou atrás, vamos ver o que consigo. Pra que Thaís??? Ah pessoal, de vez em quando é bom sentir esses soquinhos no estômago para se dar valor ao que se tem. É muito fácil sentar meu popô aqui na cadeira confortável,  passear e comer do bom e do melhor enquanto coisas desse tipo acontecem no mundo lá fora. E eu estou na Índia né caçaroles!  Gosto muito de ver o lugar com os mesmos olhos dos anfitriões e não simplesmente com a visão de turista. Isso é uma coisa que acho espetacular.  Sem falar que será especialmente emocionante se eu puder e conseguir contribuir para que o mundo, em especial agora a Índia, se torne um pouquinho melhor.   
                Saí de São Paulo na madrugada do dia 1 de março de 2011 e cheguei às 9:30h do dia 2. Retirando minhas 3 malas de 32 kilos cada, avistei o Gabriel Lá fora, no meio da multidão, me esperando. Foi emocionante. Uma sensação de alívio. “Que bom estar com você!”. Nossa, foi  muito bom, dá até vontade de reviver a cena só para sentir aquele mesmo prazer que senti. Chegamos em casa e tinha cartazes me desejando boas vindas. “Finalmente juntos!”.
               Agora meu endereço fixo é o da cidade de Gurgaon, a sexta maior cidade do estado indiano de Haryana, e o quarto maior subúrbio da grande Delhi. Localizada a 20 km da capital, Nova Delhi e a  10 km do Aeroporto Internacional Indira Gandhi. Pertinho. Quem quiser nos visitar não terá que esperar hooooras até chegar em casa. Eu sei como é querer estar em casa o quanto antes depoi s de uma viagem como Brasil – Índia!
clique na imagem para ampliar

                Então fica aqui o meu convite para que me acompanhem nessa viagem e em outras que andaram aparecendo e ainda aparecerão...
Beijinhos e Namastê!